Powered By Blogger

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Bandeirantes e Pioneiros

Bandeirantes e Pioneiros
Paralelo Entre Duas Culturas / Vianna Moog
A reação do povo brasileiro ao fenômeno político-econômico norte-americano abrange toda a gama que vai da submissão ao ódio cego, passando pela admiração honesta, mas ingênua, e pela análise crítica e desapaixonada. Ninguém assume, diante do extraordinário impacto que nos causa a presença americana, atitude de indiferença ou de desinteresse. Do fim da Segunda guerra Mundial aos nossos dias, sobretudo, com a divisão do cenário político internacional em dois grandes blocos antagônicos, o problema passou a ter em certos círculos uma componente rigorosamente emocional: ou se é a favor dos Estados Unidos – e entreguista – ou se é contra os Estados Unidos – e agente de Moscou.
Salta aos olhos de todo observador bem avisado que é preciso recolocar a questão nos seus devidos termos e estudá-la sem complexos nem rancores para entender as virtudes e os defeitos da chamada civilização americana, principalmente naquilo em que possam afetar nossa vida nacional.
Não é ainda tão vasta quanto seria de desejar, entretanto, a bibliografia brasileira sobre esse tema de tão grande interesse para todos nós. A história comparada dos dois gigantes está para ser escrita à luz de dados e fatos; o que temos em demasia são relatos de viagem, os pitorescos encontros com a realidade – alarmente para uns, perfeita para outros – de uma sociedade altamente complexa, desenvolvida e dominadora. Bandeirantes e Pioneiros, de Vianna Moog, é uma primeira tentativa séria de interpretação comparativa.
O segundo capítulo, intitulado Ética e Economia, é dos que mais estimulam o debate. Nele se coloca, paralelamente, o desenvolvimento de dois tipos de capitalismo: a progressão geométrica norte-americana, no quadro do protestantismo, a progressão aritmética brasileira, no quadro do catolicismo. Trabalho de erudição e pesquisa - equivale a um verdadeiro ensaio que, sozinho, justificaria prolongada e frutífera discussão.
Polêmico, aliás, é o livro todo. Vianna Moog suscita o diálogo com a crítica, já que admite – em seu prefácio – ter abordado “um tema essencialmente dinâmico, com um número quase ilimitado de incógnitas, todas a variarem umas em função das outras”, um tema, em suma, que “não é propriamente dos que comportam pronunciamentos definitivos ou julgamentos isentos de erros de observação, de emoção e de interpretação”.
O fato de já estar na nona edição – todas de grande tiragem – mostra quanto o livro tem sido lido, quanto ainda aguarda que o debate com outros livros e formulações se estabeleça publicamente. A perfeita compreensão do problema americano, focalizado pelo prisma do julgamento brasileiro, não pode e não deve ficar nas platitudes subservientes de muitos burgueses ou no anti-americano raivoso de alguns elementos radicais da esquerda epidérmica. Não é sensato que nos deixemos envolver, seja pelas deformações visuais daqueles que enxergam apenas os aspectos positivos da questão, seja pelos que admitem apenas os negativos.
Fiel a seu propósito de exercer presença estimulante no cenário cultural brasileiro, esta Editora vem oferecendo uma série de livros sobre a realidade norte-americana, procurando estudá-la sob os mais variados ângulos. Ao lado deste trabalho de Vianna Moog, cabem na estante daqueles que se interessam pelo assunto, estas outras obras que editamos recentemente: O Estado Militarista, de Fred J. Cook (análise do complexo industrial-militar que, hoje, praticamente controla a vida política naquele País; A Sexta Coluna, de Roger Burlingame (claro estudo sobre a atuação dos elementos de extrema direita no panorama político dos Estados Unidos); A Outra América, de Michael Harrington (um levantamento surpreendente e objetivo da pobreza que se oculta por detrás de uma fachada opulenta.).
Para que o Gigante adormecido desperte de uma vez, precisamos abrir os olhos para o mundo e focalizá-los, particularmente, no Gigante acordado.”.

Postado na íntegra por ROAMF.

Nenhum comentário:

Postar um comentário